A história do cérebro

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Há dois mil anos atrás, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), propôs a existência de uma substância não material, a alma. Esta era independente do corpo e responsável pelo pensamento e pelas percepções e emoções humanas. Já o cérebro teria a única função de arrefecimento do corpo. Surgia, assim, o interesse pelo estudo do cérebro e do comportamento humano.

Descartes (1596-1650) e Darwin (1809-1882) foram os primeiros a contestar a ideia proposta por Aristóteles. Na sua obra Tratado do Homem, publicado em 1648, Descartes descreveu que as capacidades exclusivamente humanas estavam localizadas na mente, fora do cérebro. Dois séculos mais tarde, esta ideia foi posta de lado com Darwin. Ele explicou o comportamento racional como exclusivo resultado do funcionamento do cérebro e do restante sistema nervoso, sem fazer qualquer referência à mente.

Ao longo de vários milénios, a visão de que o cérebro constituía um elemento que diferenciava a espécie humana em relação às restantes espécies humanas e que era responsável por funções de regulação importantes, foi-se tornando cada vez mais clara.

Foi precisamente durante esses milhões de anos de história que o ser humano sofreu grandes alterações em todo o corpo e, nomeadamente, no crânio. Entre o esqueleto do Australopithecus e o Homo sapiens, reina o aumento do tamanho do cérebro e, consequentemente, da capacidade craniana.

Há cerca de 3,5 milhões de anos, o Australopithecus era uma dessas espécies que habitava o nosso planeta. Com uma média de 1,65 metros, o volume do seu crânio não ultrapassava os 450 cm3 e, como tal, o seu cérebro era um terço do nosso. Já a sua cara era marcadamente proeminente, não apresentava testa e, contrariamente, tinha uma grande mandíbula.

Seguiu-se o Homo habilis passado um milhão de anos. A sua capacidade craniana era de cerca de 600 cm3, tinha um crânio mais arredondado e os dentes maiores.

O Homo erectus apareceu há 1,8 milhões de anos e a sua capacidade craniana tomava valores entre os 800 e os 1.100 cm3. Uma testa pronunciada e dentes mais pequenos, são características deste novo crânio.

Por fim, o Homo sapiens surgiu há pouco mais de 200.000 anos. O crânio da nossa espécie não ultrapassa os 1.700 cm3 de volume. É ela que aumenta o tamanho da testa, ao mesmo tempo que apresenta um queixo desenvolvido e dentes adequados para comer carne, fruta e legumes. Além disso, tem a cara mais achatada.

“É evidente que a capacidade do crânio não implica forçosamente o peso do cérebro a partir de um crânio fóssil”. Contudo, “não sabemos muito bem o que ‘pesa’ num cérebro: o corpo dos neurónios? os axónios? a mielina? ou tudo isto ao mesmo tempo?”.

Em 1861, Broca estudou a relação existente entre o peso do cérebro e a inteligência de cada indivíduo, através do estudo das diferenças de peso entre o cérebro masculino e o feminino. Broca anotou que o peso médio dos cérebros dos trabalhos não qualificados (1365 g) era relativamente mais reduzidos do que os dos trabalhos qualificados (1420 g). Contudo, não se verifica nenhuma relação entre o peso do cérebro e o QI (quociente intelectual). Assim, as causas desta diferença devem ser atribuídas aos regimes alimentares e às condições de vida diferentes. Isto acontece pois a massa do cérebro é sobretudo a acção das células gliais, que desempenham um papel de alimentação e protecção, e não dos neurónios.

“Qual teria sido a reacção de Gall, o pai da frenologia, se tivesse conhecido enquanto vivo o peso do seu cérebro? Com apenas 1100 g, ele não pesava metade do peso dos cérebros humanos mais pesados, como o de Lord Byron (2230 g).”

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