Evolução e história do conceito "Mente"

Como já referimos anteriormente, as concepções sobre o que é a mente foram mudando ao longo do tempo. Nem sempre se classificou a mente como mente, nem sempre se pensou que havia mais para além do cérebro. Contudo, o conceito de “mente” está ligado à história da humanidade.

Há já muitos séculos que o Homem se interroga sobre a mente, no início talvez ainda não tivesse a noção do que realmente estava por trás das respostas que procurava para as suas questões, mas o que é verdade é que há já muito tempo que vários pensadores procuram o que está por trás do seu pensamento. Porque é que eu penso? O que é que me faz pensar? Será que existe algo dentro de mim que me faz pensar? Estas são algumas das perguntas que assombram o Homem desde os primórdios da sua existência. Hoje em dia sabe-se que existe, embora não sendo visível, nem palpável, algo extremamente especial, a Mente, que nos distingue de todas as outras espécies e é responsável por toda a nossa actividade psíquica, consciente e inconsciente.

No entanto, nem sempre se soube tudo como se sabe hoje.

O Homem, esse ser pensante e curioso, sempre se questionou sobre a sua natureza e o que fazia com que uns fizessem coisas de forma diferente. As suas explicações no princípio eram crenças e superstições. Qualquer comportamento diferente tinha como explicação um espírito mau ou um feitiço. Assim em todas as comunidades, normalmente, existia um feiticeiro que interpretava esse comportamento e com vários rituais tentava corrigir todos os males. Tudo isto derivava da procura da mente, não com esse nome, nem de forma muito consciente, consistia sim na procura de explicações.


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Ao longo da história foram sendo elaboradas várias teorias, histórias e mitos acerca desta temática.

Depois duma fase mais pobre em termos de registos culturais, surgem alguns registos mais elaborados do que pensadores importantes da nossa história pensavam sobre o que está por trás do comportamento humano, a Mente. Compreender o que é a mente era o objectivo do Homem.

No século VI a. C. viveram Buda, Confúcio e Sólon que deram as primeiras respostas ao problema do que é a mente. Foram das primeiras e importantíssimas referências que surgem na tentativa de explicar o que é a mente. Há quem defenda que foram os contributos desses três pensadores que levaram a mente a ser objecto de pensamento, semelhante ao que hoje realizamos.

“Buda via as sensações e as percepções como o meio que conduzia ao pensamento: as sensações e as percepções combinar-se-iam de forma gradual, mais ou menos automática, tornando-se, assim, pensamentos e ideias. Confúcio, por sua vez, enfatizou que a capacidade de pensar e de decidir se encontrava no interior de cada pessoa, relacionando, por exemplo, pensamento e aprendizagem: “Aprendizagem não digerida pelo pensamento é trabalho perdido; pensamento não assistido pela aprendizagem é perigoso.” Sólon começa a referir-se à mente como raciocínio e capacidade de compreender e julgar. É-lhe, por vezes, atribuída a autoria de uma inscrição muito famosa encontrada no Templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo.” ”

Portanto, estes três grandes pensadores relacionavam o cérebro, o pensamento com a mente.


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Depois deles foram surgindo alguns avanços e recuos no que diz respeito à mente. Isto, porque hoje em dia podemos afirmar com toda a certeza que o cérebro lhe está indiscutivelmente ligado. Porém, ao longo da história surgiram teorias que ligavam as nossas acções, sentimentos ao coração, como, por exemplo, Aristóteles que defendia que o cérebro servia apenas para refrigerar os impulsos e sentimentos deste. Ainda hoje, por exemplo, o símbolo do amor é o coração, no entanto sabe-se que a sede de todas as emoções é no cérebro.

Com o contributo de todos estes pensadores e de outros, ao longo dos séculos foram sendo desenvolvidas teorias, realizadas descobertas, que contribuíram em muito para a nossa forma de compreender o mundo e os seres humanos, de compreender a mente.

Com o objectivo do Homem de estudar os comportamentos e os processos mentais, surgiu uma disciplina científica com essa finalidade, a Psicologia. A Psicologia, embora tenha uma curta história, tem um longo passado, pois desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos dedicaram-se a questões relativas à natureza humana. No entanto, a Psicologia só no final do século XIX é que é encarada como uma ciência independente.

O objectivo da Psicologia é compreender o ser humano, para isso tem como objecto de estudo os comportamentos e os processos mentais do ser humano.

Hoje em dia, o objecto de estudo por excelência da Psicologia é a Mente, sendo considerada o núcleo central da Psicologia.

Como já foi dito no subcapítulo 3.1 (O que é a mente?), durante muito tempo associou-se o conceito de mente à dimensão cognitiva do ser humano, isto é, correspondia à actividade consciente independente dos sentimentos e emoções.

Também uma visão fortemente sustentada durante vários anos era de que a mente era uma entidade separada do corpo. Esta especulação tem as suas raízes históricas em teorias antigas que determinavam hipóteses dualísticas da função cerebral, as quais admitiam que o cérebro podia ser visto mecanicamente, mas a mente era uma entidade com uma característica física não definida. Em tais teorias, a mente era vista como um sinónimo da alma, formando uma parte integrante da cultura religiosa prevalecente. Um dos grandes impulsionadores desta visão dualística foi Descartes que defendia um cérebro “material” contra uma mente formada por uma substância incorpórea, imaterial e com regras de funcionamento diferentes. Desde que a mente e o cérebro passaram a ser vistos como entidades isoladas, as pesquisas nestas áreas foram, de maneira geral, inerentemente separadas. Bioquímicos têm-se preocupado com os mecanismos somáticos, psicólogos têm-se esforçado com as propriedades subjectivas da mente, filósofos e teólogos trazem com eles o espírito e a alma.

Como vimos até agora ao longo da história da humanidade a mente sempre esteve presente e continuara a estar sendo todos os dias respondidas respostas e sendo levantadas ainda mais questões sobre a mente e as suas capacidades.