O crescimento do cérebro

Constituída por características partilhadas (da espécie) e por características individuais (do indivíduo), é a rede neural que faz parte de um cérebro que o torna único. É, então, necessário salientar que o que compõe as características individuais de cada um (o processo de individuação) são o meio envolvente e as experiências vividas por cada ser. Isto acontece pois, e é importante não esquecer, os processos que influenciam tanto o crescimento como o desenvolvimento do cérebro são os mesmos que influenciam os dos outros órgãos. Poucos dias depois de ser originada a primeira célula até à fase adulta, o cérebro de um indivíduo está em constante desenvolvimento. De facto, o processo de maturação cerebral é significativamente mais lento no ser humano do que em qualquer outra espécie. Contudo, esta lentidão apresenta algumas vantagens, entre as quais como uma progressiva complexificação estrutural e funcional da rede neural.

Tudo começa após as três primeiras semanas após a concepção, quando o embrião humano apenas tem duas camadas interligadas de células. Até essa altura não é possível encontrar no embrião nenhuma formação semelhante ao cérebro. Após esta fase, o cérebro e o restante sistema nervoso central começam a desenvolver-se a partir de um pequeno conjunto de células da superfície superior da bicamada, a placa neural, contendo apenas cerca de 125 000 células – de lembrar que o cérebro já no final do desenvolvimento contém entre 10 e 100 mil milhões de células.

Nas primeiras fases de desenvolvimento, as células embrionárias não têm um destino específico: podem tornar-se componentes da pele, dos músculos ou de outras áreas do organismo. Se retirarmos células destinadas a fazer parte do cérebro de um indivíduo, por exemplo, e as colocarmos numa região diferente de outro embrião, elas transformar-se-ão em células diferenciadas de acordo com o novo local onde foram colocadas. Contudo, a mesma operação praticada alguns dias mais tarde poderá não dar o mesmo resultado.

Uma semana mais tarde, a placa neural enrola-se, formando um tubo que permanece no interior do embrião, envolvido pela futura epiderme. É a partir da parte oca deste tubo que se formam os hemisférios cerebrais, o mesencéfalo e o bolbo raquidiano.

Em certas etapas do desenvolvimento embrionário, cerca de 250 000 células/minuto são adicionadas ao cérebro.

 

Nas semanas seguintes ocorrem outras mudanças como a alteração da forma das células, divisão, migração e adesão celular. Os neurónios cerebrais começam por formar um prolongamento do corpo celular, o cone de crescimento, que afasta qualquer obstáculo e inicia o seu movimento da célula. As fibras radiais espaciais abrangem toda a distância entre a área de proliferação das células do córtex cerebral, ao longo do tubo neural, e o destino final da célula na placa cortical. Como tal, conseguem orientar a migração dessas mesmas células. Esta migração encontra-se sujeita a “processos de controlo e sequenciação: por exemplo, as células que inicialmente atingem as suas posições finais formam uma cama, enquanto as que chegam posteriormente ocupam locais mais próximos da superfície do córtex”

Após a migração, os neurónios iniciam a fase de crescimento e diferenciação. Apesar de alguns neurónios destinarem-se a tornarem-se células motrizes e outras células sensitivas, a maioria são células com função ainda não determinadas. Estas farão ligações entre neurónios sensitivos e motores.

As primeiras células a sofrer a diferenciação no córtex cerebral são os neurónios motores, seguidos pelos interneurónios (células envolvidas na formação de circuitos locais). Enquanto o período necessário para o nascimento de um neurónio é de cerca de cem dias, a diferenciação pode durar toda a vida.

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Na altura do nascimento, um cérebro humano pesa cerca de 350 gramas e tem um volume cerca de quatro vezes menor que o do adulto. Após um mês, o cérebro ainda é leve, com 420 gramas.

Já com um ano de idade, o cérebro atinge metade do peso de um cérebro adulto: 700 gramas. A formação de sinapses continua e, enquanto certas conexões desaparecem, outras são reforçadas. Ocorre o aperfeiçoamento do córtex sensorial, motor e visual e dá-se início à maturação do córtex pré-frontal. Após cerca de um ano, fecha-se a última fontanela.

Por altura dos seis anos de idade, o cérebro atinge 90% do seu tamanho final. O desenvolvimento do córtex continua, mas de uma forma mais lenta pois ele não irá depender de qualquer formação ou crescimento de neurónios: a divisão celular destes termina na altura do nascimento. Contudo, alguns vão morrendo durante a vida e, a partir daí, a existência consiste em conseguir fazer cada vez mais com cada vez menos. Nesta fase da vida, a matéria cinzenta continua em desenvolvimento nas zonas associativas do córtex pré-frontal, temporal superior e parietal.

Por fim, aos doze anos, a substância cinzenta invade as áreas associativas e prossegue o desenvolvimento do córtex pré-frontal, cuja maturação atravessa toda a adolescência. Em adulto, as uniões do crânio endurecem no indivíduo adulto e podem acabar por desaparecer em idades muito avançadas.

O que permite o crescimento do cérebro é o facto de existir espaços entre os ossos do crânio do bebé, as fontanelas, devido a estes ainda não estarem soldados por completo. Estes espaços irão também permitir que o crânio se deforme durante o parto.

Como qualquer outro processo complexo, o desenvolvimento e maturação do cérebro pode falhar em diversas etapas, dando origem a diversas doenças, como a síndrome de Down, que abordaremos mais à frente.