Doenças mentais

“Doença mental” engloba um amplo espectro de problemas patológicos que afectam a mente, usualmente provocando grande desconforto interior e alterando comportamentos.

Provoca uma enorme variedade de sintomas entre as quais queixas a nível do humor, ansiedade, memória, percepção e pensamento.

As doenças mentais estão relacionadas com o sistema nervoso que tem como missão coordenar as várias funções corporais e facilitar a adaptação do organismo ao meio que o rodeia. Muitas das funções que o sistema nervoso controla actuam de uma forma inconsciente e involuntária pelas estruturas nervosas do córtex cerebral. Também existem muitas outras actividades que necessitam da intervenção consciente e voluntária do córtex cerebral, como acontece, por exemplo, com as funções nervosas superiores ou intelectuais: a capacidade de raciocínio, o pensamento, a memória, a aprendizagem, a linguagem e o comportamento.

As doenças mentais, tal como a maioria das doenças, são multifactoriais, ou seja, resultam da combinação de diferentes factores. Assim é na conjugação da nossa base genética com o meio que nos envolve e seus momentos ou períodos importantes que a doença pode surgir, repentinamente ou de forma mais insidiosa. Uma das clássicas formas de olhar para as causas das doenças mentais subdivide-as em doenças de causa endógena (resultado de factores hereditários e constitucionais) e em doenças de causa exógena, sendo que estas, ao contrário das primeiras, são mais reactivas aos acontecimentos do dia-a-dia e menos dependentes da nossa genética, biologia e fisiologia.

Uma das doenças que deriva da participação de factores genéticos é o atraso mental, que muitas vezes é devido a alterações genéticas ou cromossómicas e a problemas metabólicos ou lesões anatómicas ocorridas durante a gravidez, o parto ou nos primeiros anos de vida, afectando o desenvolvimento do sistema nervoso central. Há inúmeros problemas genéticos ou cromossómicos que podem, entre as suas manifestações, provocar um atraso mental, destacam-se a síndrome de Down (trissomia 21) e as síndromes de Klinefelter e de Turner. Noutros casos, o problema pode ser provocado por problemas orgânicos, independentemente de serem infecciosos (rubéola, toxoplasmose, sífilis), tóxicos (alcoolismo, toxicomania) ou traumáticos, que afectam a mãe ao longo da gravidez. Para além disso, qualquer problema que provoque um aporte insuficiente de oxigénio ao feto também pode provocar um atraso mental congénito. Por vezes, a deficiência mental é provocada por problemas ou sequelas de doenças que afectam o sistema nervoso central nas primeiras fases da vida, como traumatismos, meningite, encefalite ou grave desnutrição. Por fim, o meio em que o paciente vive, nomeadamente uma evidente falta de estímulo ou de afecto nos primeiros anos de vida, também pode provocar um certo grau de atraso mental.

Outra doença mental é a depressão que pode ser provocada por uma série de factores, relacionados com uma certa predisposição, que favorece o desenvolvimento do problema e por outros factores precipitantes, que a podem desencadear a qualquer momento, embora nem sempre estejam presentes. De acordo com dados estatísticos, a depressão é muito mais frequente nos gémeos e nos filhos de pessoas deprimidas do que no resto da população, o que leva a crer que existe uma certa predisposição genética, transmitida de forma hereditária, para se ser afectado pela doença. Dado que as alterações genéticas responsáveis por esta predisposição, infelizmente, ainda não foram identificadas, actualmente ainda não é possível detectá-las. Um outro grande factor predisponente, decerto provocado pelas alterações genéticas anteriormente mencionadas, corresponde à diminuição da quantidade e, consequentemente, da actividade de uma série de neurotransmissores ou mediadores químicos responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos. De facto, constatou-se que a diminuição da concentração e da actividade da dopamina, serotonina e noradrenalina em determinados sectores do sistema nervoso central tem um efeito depressivo no estado anímico. A personalidade depressiva, provocada pelos factores genéticos e neurológicos referidos e pela influência do ambiente familiar e social durante os primeiros anos de vida, constitui um antecedente muito comum da depressão. Os indivíduos com personalidade depressiva caracterizam-se por uma grande obsessão com as suas responsabilidades e com a ordem nas suas amizades, no trabalho e nos seus relacionamentos, no entanto, como esta exigência é tão exagerada, acabam por achar, na maioria dos casos, que não conseguem satisfazê-la, sentindo-se frustrados e com sentimento de culpa, o que os leva facilmente a situações de stress. Um outro factor predisponente muito importante é a influência do ambiente sociocultural numa época como a actual, na qual são exaltados valores, nomeadamente ao nível do sucesso económico, afectivo e social, cuja difícil concretização pode gerar uma constante tensão. Por outro lado, a acção dos factores precipitantes permite uma descida temporária, embora brusca e exagerada, da quantidade ou actividade dos neurotransmissores já mencionados, o que favorece o desenvolvimento de uma depressão. Estes factores podem ser do tipo orgânico, como em caso de esgotamento físico, ou dever-se a alguns problemas endócrinos, como o hipotiroidismo, ou ao alcoolismo. De qualquer forma, na maioria dos casos, são do tipo psicológico, por vezes relacionados com situações que provocam uma grande tristeza. Por outro lado, em alguns casos, estes traumas psicológicos são provocados por circunstâncias que não deveriam ser interpretadas como negativas - por exemplo, após uma mudança de casa ou de país - ou por outras que poderiam ser consideradas positivas - como o caso da reforma ou uma iminente promoção profissional.

Pertencente ao grupo das psicoses, a esquizofrenia, grave problema mental, caracteriza-se por uma evidente desorganização da personalidade, perda de noção da realidade e dificuldade nas relações afectivas, sociais e profissionais. A causa da esquizofrenia ainda não é conhecida, mas é provável que seja provocada por factores genéticos, pois o problema é mais frequente no seio de determinadas famílias do que na população em geral. Por outro lado, o estudo anatomopatológico de alguns pacientes falecidos evidenciou determinadas alterações anatómicas ao nível do encéfalo, contudo, como a sua origem ainda é desconhecida, os investigadores não conseguiram chegar a uma conclusão unânime no que se refere ao seu significado. É igualmente possível que o problema seja originado por vários factores neurofisiológicos, já que o registo da actividade cerebral da maioria dos pacientes apresenta consideráveis alterações. Por fim, considera-se que existem determinados factores psicológicos e ambientais, tais como o antecedente de uma mãe autoritária e um pai passivo ao longo dos primeiros anos de vida, que poderiam desempenhar, de um ponto de vista psicológico, um importante papel na origem deste problema.