Até que ponto, a mente humana é resultado das nossas vivências ou da influência do nosso cérebro?
Doenças Cerebrais - Epilepsia
O que é?
A epilepsia é definida como uma doença em que a pessoa é propensa a sofrer de ataques epilépticos recorrentes. Um ataque epiléptico é semelhante a uma descarga eléctrica. Pode ser confinado a uma parte do cérebro, pode espalhar-se a outras partes ou pode envolver todo o cérebro.
Os ataques não são todos iguais. Quase todos são súbitos, de curta duração e autolimitados. A maior parte deles ocorre espontaneamente sem aviso e a forma de ataque depende da parte do cérebro envolvido. Assim, os ataques podem ser:
- parciais simples: estes são os ataques confinados a uma pequena parte do cérebro, durante os quais não existe perda da consciência. Estão muitas vezes divididos em ataques do lobo temporal, do lobo frontal, do lobo parietal e do lobo occipital, dependendo do ponto onde o ataque tem início; - parciais complexos: o ataque envolve uma parte maior do cérebro e espalha-se numa extensão suficiente do cérebro que faz com que o doente já não tenha consciência do meio que o rodeia; - secundários generalizados: estes são o resultado da propagação do ataque ao longo de ambas as metades do cérebro; a propagação pode ser suficientemente lenta pelo que o doente tem um sinal de aviso, ou ser tão rápida que o doente perde a consciência; - generalizados: estes são ataques que têm início em ambas as metades do cérebro ao mesmo tempo; como tal, não existem sinais de aviso e perde-se imediatamente a consciência. Há duas categorias de ataques generalizados: - ausência: existem pequenos períodos de vazio, que duram apenas uma questão de segundos e podem ser confundidos com falta de atenção ou perda de concentração; - mioclónicos: estes tipos de ataque são normalmente registados em doentes com convulsões muito breves de um dos membros ou de todo o corpo. O doente pode deixar cair de repente uma chávena de chá, quando a sua mão começa a sofrer espasmos, ou então todo o seu corpo é atirado para o chão.
A epilepsia é extremamente comum e normalmente tem início na infância ou na velhice. Existem entre 40 a 70 mil epilépticos em Portugal e todos os dias são diagnosticados novos casos. Além disso, uma em cada 30 pessoas pode vir a desenvolver epilepsia. No entanto, a maior parte das pessoas com epilepsia melhora e, na verdade, é isso que acontece; em cerca de 6 em cada 10 pessoas a doença desaparece por si.
A epilepsia afecta homens e mulheres quase igualmente, embora determinados tipos de epilepsia sejam mais comuns em um ou outro sexo. Afecta todas as classes sociais e todas as raças.
Quais são as causas?
Toda a actividade cerebral depende da passagem de impulsos eléctricos. Nas sinapses, quando o impulso chega ao fim do axónio, provoca a libertação de uma substância química; esta substância comunica com o corpo de um neurónio próximo através de receptores. Estes podem “excitar” o corpo deste neurónio e se a excitação for suficiente, então é enviado um outro impulso através do seu axónio. Esta é a forma como os neurónios comunicam entre si.
Se ocorresse apenas excitação no cérebro, então todos os neurónios acabariam por disparar ao mesmo tempo, causando assim uma “descarga eléctrica”, tal como a que se regista num ataque epiléptico. Contudo, alguns neurónios libertam uma substância química dos seus axónios que inibe os neurónios circundantes, impedindo-os de enviar impulsos. O cérebro funciona correctamente quando há um equilíbrio entre a excitação e a inibição. Se houver demasiada excitação ou muito pouca inibição numa determinada parte do cérebro, acontece um ataque epiléptico.
Em ataques parciais, o desequilíbrio entre a excitação e a inibição pode ser causado por danos localizados no cérebro, por exemplo, por falta de oxigénio à nascença, meningite ou traumatismos cranianos, ou por tecido anómalo como um tumor cerebral ou uma deficiência no desenvolvimento do cérebro.
Em ataques generalizados, o desequilíbrio químico pode ser causado por drogas como a cocaína e as anfetaminas, alterações químicas do sangue, excesso de álcool e factores hereditários ou desconhecidos.
Quais são os sintomas?
A ferramenta de diagnóstico mais importante é a sessão de perguntas e respostas que acontece entre o doente e o médico num consultório ou hospital. O médico irá tentar determinar se os episódios descritos são ataques pedindo uma descrição pormenorizada do que se passa e, obviamente, se se perdeu a consciência. É importante que esteja presente alguém que tenha presenciado um desses episódios para ajudar na descrição.
O médico mostrar-se-á interessado em saber qual a causa subjacente dos ataques e fará perguntas sobre traumatismos cranianos, problemas à nascença, se o doente teve meningite, consumo de álcool e se outras pessoas da família sofrem de epilepsia.
O diagnóstico envolve uma avaliação da probabilidade de essa pessoa vir a sofrer de ataques epilépticos. Se teve um ataque provocado por excesso de álcool e depois de tornar abstémio, as hipóteses de vir a ter outro ataque são muito reduzidas e não lhe será diagnosticada epilepsia. Se, por outro lado, teve uma série de ataques por causa de uma parte danificada do seu cérebro, as hipóteses de vir a ter outro ataque.
Como se trata?
O objectivo do tratamento prolongado é impedir todos os ataques e isso pode obter-se na maioria dos doentes. O que se segue são as três principais maneiras de atingir isso:
- evitar todas as coisas que possam causas ataques: - álcool e privação do sono - stress - febre e temperaturas elevadas - fotossensibilidade - tratamento com medicamentos - cirurgia cerebral
Muito ocasionalmente, os doentes que têm sinais de aviso que duram bastante tempo antes de perderem a consciência, são capazes de controlar o seu ataque e impedir a perda de sentidos. Por vezes, isto consegue-se por intermédio de uma intensa concentração durante o período de aviso.